Inocente ou culpado, me encontro nesse estado
E não dá pra calcular o tamanho do estrago
Rosto ensanguentado, acho que me empolguei
O que fazer pra acalmar o monstro que liberei?
O ódio que dominou cem por cento de um corpo
Que, aos prantos, desejou várias vezes cair morto
Um sufoco anual que você nem imagina
Vou contar como cheguei todo louco nessa cena
Entre apertos no pescoço, vários socos no rosto
Segurem esse louco, porra, 'to quase morto
Pare de me bater e diga logo o que deseja
Não entendo o porquê, mas só tenho uma certeza
Que 'to sempre em sua mira, acabou com minha vida
Ninguém separa a briga, professor passa, não liga
Todos aqui têm medo, compulsivo e violento
Se soubesse o que desejo, logo quando te vejo
Minha vontade é degolar, arrancar a sua cabeça
Pendurar no alto do mastro pro colégio inteiro, veja
Se você não me conhece, então por que não me esquece?
Rouba meu dinheiro, compra álcool, compra beck
Violência vem de berço e serve pra motivar
Alcoolismo tem um preço, o pai nem sabe onde 'tá
Já chegando bem cedinho na porta do colégio
Vejo aquela face em frente àquele prédio
O demônio estampado no rosto, no olhar
Porra, eu 'to ferrado, hoje que vai me matar
Uma cena deprimente agora vai rolar
Entortaram os meus dentes, não paro de sangrar
O que 'cê tem em mente, ninguém o faz parar
Cheguei em casa roxo, sem ter o que falar
Eles não se importam, me mandaram ir deitar
Meu nome, Zé Ninguém, dá vontade de chorar
Acho que não faço falta, sou só peso nessa terra
Ninguém que me abraça, um carinho só que seja
Fiquei traumatizado, só penso na vingança
Ver sangue escorrendo, essa é minha esperança
Pensamento nebuloso, apesar de meu tamanho
Um grito de socorro num deserto só de sonho
Meus colegas que me olham com nojo e desprezo
Mas o que que eu quero mesmo? Só respeito eu desejo
Cansei de ser zoado, cansei de apanhar
Fodido, revoltado, eu quero me vingar
Ele vai pagar, começo a chorar
Todos vão lembrar do meu nome e odiar
Planejo a noite toda, pesquiso, não dormi
Se pá, vai demorar, mas não vou admitir
Uma semana depois, entrei na academia
Matriculado, fui pro boxe também no mesmo dia
A vingança é um prato que diziam comer frio
E o cardápio é o seu sangue em um dia bem sombrio
O esporte não é feito pra vingança, 'cê dizia
Mas se aqui fosse você, o que você faria?
Durante um ano, escondia de você
No intervalo, evitava aparecer
A gente pouco se via, parecia ter esquecido
Quem apanha nunca esquece e jamais será comigo
Guardo cada surra, nos treinos eu me lembro
O saco de pancadas parecia cada membro
Seu rosto, nariz, pescoço, estômago
Sonhando com a vingança, focado no âmago
Chegou o dia D, o meu ódio é eterno
E eu sou o seu algoz, te vejo no Inferno
Agora é muito tarde, não dá pra voltar atrás
Se 'to indignado, se 'tá certo o que ele faz
A chuva logo cai e piora o cenário
Dentro do colégio, suando frio, caralho
Entrei na sala dele, começou a brincadeira
Me chamando de otário, é o primeiro da fileira
Metido a bullying, ele 'tá logo ali
Cuspiu na minha cara, aquilo o fez sorrir
Eu disfarço um sorriso, ele não entendeu
O bandido dessa cena, no final, tem que ser eu
O sinal do colégio tocou como de praxe
Parecia até o gongo me mandando pro ataque
Nem deu tempo, reagi, a sala toda assustou
Derrubei ele no chão, cão de briga se soltou
Ajoelhou, me olhou, implorando por perdão
'Cê se lembra quem eu sou? Seu sangue na minha mão
Pow, pow, vários socos na cabeça
Pra não ter nenhuma chance, minha face não se esqueça
O rosto ensanguentado era dele, afinal
'To todo respingado de sangue de boçal
Nunca mais esquecerei aquele dia
Feito louco eu socava, feito louco eu sorria
Bati tanto que ninguém conseguiu me segurar
Prepara a cirurgia que você vai precisar
Daqui pra frente já nem sei, posso até morrer em paz
Mas minha vingança foi bem dada, me julgue se for capaz